A SpaceX, de Elon Musk, enfrenta crescente pressão para demonstrar avanços concretos em seu programa Starship após uma série de falhas em testes que têm se tornado cada vez mais caros.
Em junho, um dos veículos Starship explodiu durante um teste de abastecimento de rotina, levando a empresa a redirecionar cerca de 20% da equipe de engenharia do programa Falcon 9 para atuar no projeto por seis meses, segundo pessoas familiarizadas com o planejamento em entrevista à Bloomberg.
O objetivo é acelerar melhorias na confiabilidade do foguete, nos testes de componentes e no ritmo de produção. Neste mês, a SpaceX revelou que a explosão em junho foi causada pela falha de uma garrafa pressurizada de nitrogênio gasoso.
O incidente somou-se a outros contratempos: em três lançamentos de teste realizados neste ano no Texas (EUA), dois foguetes explodiram e o terceiro falhou ao tentar liberar satélites experimentais, girando fora de controle no retorno à Terra.
As dificuldades levantaram dúvidas sobre a viabilidade da nave, que Musk projeta como o primeiro foguete orbital totalmente reutilizável e peça-chave para levar humanos de volta à Lua e, futuramente, a Marte.
Em reportagem recente, a New York Magazine questionou: “A Starship de Elon Musk está condenada?”. Todd Harrison, pesquisador sênior do American Enterprise Institute, explicou que as rápidas mudanças de design contribuem para falhas catastróficas: “Quando você está mudando muitas coisas no design de uma vez, todos esses efeitos colaterais começam a se somar.”
A Bloomberg tentou contato com a SpaceX para comentários, mas não obteve resposta.
SpaceX continua atraindo investidores
- Apesar dos contratempos, a SpaceX continua a atrair capital;
- A empresa, fundada há 23 anos, prepara nova rodada de venda de ações que pode avaliá-la em US$ 400 bilhões (R$ 2,18 trilhões, na conversão direta), embora tenha reduzido estimativa inicial de US$ 500 bilhões (R$ 2,73 bilhões) após conversas com investidores;
- A percepção de avanço no Starship será fundamental para manter a confiança de financiadores e para honrar contratos, como o firmado com a NASA, de aproximadamente US$ 4 bilhões (R$ 21,86 bilhões), para levar astronautas à superfície lunar.
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Custo da Starship
A produção da Starship é onerosa: cada unidade, composta pela nave e pelo propulsor Super Heavy, custa centenas de milhões de dólares. Quando um voo falha, todo o valor é perdido, além de potenciais danos ambientais. A SpaceX avalia, inclusive, adiar lançamentos de satélites da constelação Starlink em um Falcon 9 para realocar engenheiros ao Starship. Atualmente, cerca de oito mil satélites Starlink já estão em órbita.
Musk reconhece a complexidade do desafio. Em julho, declarou: “É, realmente, um dos desafios de engenharia mais difíceis que existem. Quando começamos a falar sobre o Starship, as pessoas achavam que era impossível. Na verdade, até dentro da empresa, nós meio que achávamos que era impossível.”
Os próximos testes devem continuar com o protótipo conhecido como Version 2 (V2), considerado inferior pelos próprios engenheiros, mas ainda útil para extrair dados cruciais, especialmente sobre os azulejos de proteção térmica, que, até agora, não resistiram, intactos, a nenhum voo neste ano.
Carissa Christensen, CEO da consultoria BryceTech, avalia que os insucessos não invalidam a abordagem da SpaceX, mas ressalta o impacto da visibilidade pública: “As falhas persistentes em vários testes acontecem em contexto de alta exposição de uma empresa que, normalmente, avança muito rápido e com sucesso, e em cenário em que objetivos programáticos dependem desse veículo, notavelmente a missão lunar da NASA.”
A empresa pretende realizar o décimo voo de teste do Starship no domingo (24). Para especialistas, a demonstração de progresso visível e mensurável será essencial não apenas para reforçar a confiança de investidores e da NASA, mas, também, para sustentar a visão de Musk de transformar a Starship no veículo que levará humanos a Marte.
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