Aos 35 anos, o pastor Felipe Freire desafia os padrões impostos por segmentos tradicionais do meio evangélico ao viver sua fé de forma autêntica, sem abrir mão de sua identidade. Gay, andrógino e evangélico, ele se tornou uma voz ativa contra práticas que, por anos, lhe causaram dor e sofrimento.
Felipe, que hoje lidera um ministério inclusivo na Igreja Contemporânea, traz em sua trajetória cicatrizes deixadas pelos chamados encontros de “cura gay”. Ele participou de ao menos seis retiros voltados à “libertação espiritual” promovidos por uma igreja tradicional, onde acreditava que poderia “se livrar” do que diziam ser um “espírito de homossexualidade”.
“Me diziam que aquilo que eu sentia era demoníaco, algo que me afastava de Deus e que acabaria em morte espiritual”, relembra. Durante esses eventos, era submetido a jejuns prolongados e práticas constrangedoras. Em um dos retiros, por exemplo, jovens circulavam nus diante dele para testar suas reações. “Eu saía imediatamente do quarto. Me sentia invadido, humilhado”, relata.
No entanto, uma das experiências mais devastadoras, segundo ele, ocorreu dentro da própria comunidade religiosa: o abuso sexual cometido por um membro da igreja. “Foi uma das maiores crueldades que já vivi. Um trauma que carrego até hoje.”
Mesmo após anos de tentativas frustradas de mudar quem era, Felipe afirma que nunca houve libertação — e sim repressão. “Eu sempre fui livre. Nunca houve possessão, maldade ou qualquer coisa espiritual nisso. Mas me fizeram acreditar no contrário”, desabafa.
Formado em Rádio e TV, com bacharelado em psicopedagogia e atualmente cursando pós-graduação em Psicologia Organizacional, Felipe encontrou na teologia um propósito maior. Há mais de uma década, ele exerce o pastorado, agora num ambiente que acolhe pessoas LGBTQIA+ e promove uma espiritualidade sem culpa ou exclusão.
“Minha fé hoje é reconciliada com quem eu sou. Não preciso mais esconder minha verdade para me sentir aceito por Deus”, afirma. Para ele, a dor do passado se transformou em combustível para uma missão pastoral que acolhe, cura e liberta — no verdadeiro sentido da palavra.
Felipe vive um ministério e uma teologia afirmativa e se vê como parte de uma igreja que acolhe, a Igreja Contemporânea, com sede no Rio de Janeiro e filiais em outras cidades, como São Paulo, onde ele atua.
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