O programa de variedades de Jimmy Kimmel sairá do ar “por tempo indeterminado”, informou a emissora ABC nesta quarta-feira (17), depois que o apresentador americano afirmou que parte da direita tenta explorar politicamente o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk. O anúncio foi comemorado de imediato pelo presidente Donald Trump, que o classificou como uma “excelente notícia para os Estados Unidos”, em meio a seu enfrentamento com os meios de comunicação americanos e vozes críticas como a de Kimmel. “‘Jimmy Kimmel Live!’ será suspenso por tempo indeterminado”, disse um porta-voz da rede americana à AFP.
Charlie Kirk, um importante aliado de Trump, foi assassinado em 10 de setembro enquanto participava de um debate com estudantes em uma universidade no estado de Utah. O suspeito do crime, Tyler Robinson, de 22 anos, se entregou às autoridades no dia seguinte, e foi acusado esta semana de homicídio qualificado. Kimmel tratou da comoção causada pelo assassinato em seu programa na segunda-feira.
“Tivemos alguns novos pontos baixos no fim de semana com a gangue MAGA [em referência ao movimento de Trump, ‘Make America Great Again’] tentando desesperadamente caracterizar o jovem que assassinou Charlie Kirk como qualquer coisa que não seja um deles e com tudo o que podem para tirar proveito político disso”, afirmou o humorista. Kimmel fez esse comentário justamente quando as autoridades da administração Trump prometem ações contra organizações e movimentos liberais e de esquerda, uma campanha que seus detratores classificam como uma ameaça às liberdades civis nos Estados Unidos.
O humorista ainda não se pronunciou sobre a decisão, enquanto Trump reagiu com uma publicação em sua rede Truth Social. “O programa de Jimmy Kimmel, questionado por seus baixos índices de audiência, foi CANCELADO. Parabéns para a ABC por finalmente ter tido a coragem de fazer o que tinha que fazer. Kimmel não tem NENHUM talento”, escreveu o mandatário.
‘Por bem ou por mal’ Pouco antes do anúncio da ABC, a rede Nexstar — que controla a maior parte dos canais afiliados que difundem a programação da ABC nos Estados Unidos — publicou um comunicado informando que tiraria do ar o programa de Kimmel após considerar “ofensivo e insensível” o monólogo do humorista. “Seguir oferecendo uma plataforma de transmissão ao senhor Kimmel nas comunidades às quais chegamos simplesmente não atende ao interesse público”, disse Andrew Alford, presidente da rede no texto. “Tomamos a difícil decisão de substituir o seu programa em um esforço de que prevaleçam as cabeças mais frias enquanto avançamos para uma retomada do diálogo respeitoso e construtivo”, acrescentou.
Mais cedo nesta quarta, Brendan Carr, diretor da Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês), que regula o setor nos Estados Unidos, classificou de “doentio” o comentário de Kimmel em uma entrevista a um podcaster, e insinuou que poderia haver ações legais. “Francamente, quando vemos coisas assim […] podemos fazer isso por bem ou por mal. Ou essas companhias buscam uma maneira de mudar a conduta, de agir francamente a respeito de Kimmel, ou a FCC terá trabalho adicional pela frente”, comentou Carr.
“Eles têm uma licença garantida pela FCC, e isso vem com a obrigação de operar no interesse público”, disse Carr. O anúncio surpreendente da suspensão deste programa popular acontece dois dias depois de o presidente Trump processar o jornal New York Times exigindo US$ 15 bilhões (R$ 79,5 bilhões, na cotação atual) ao acusá-lo de ser “um autêntico ‘porta-voz’ do Partido Democrata de esquerda radical”.
Trump, um crítico constante dos meios de comunicação tradicionais, intensificou sua hostilidade contra o setor desde que retornou à Casa Branca em janeiro, com ações judiciais multimilionárias. Em meio à crescente polarização, a rede CBS anunciou em julho que o talk-show noturno do humorista Stephen Colbert sairá do ar no ano que vem. A emissora informou o fim do programa dias depois de o apresentador criticar no ar um acordo de US$ 16 milhões (R$ 84,4 milhões, na cotação atual) entre Trump e Paramount, companhia da qual a CBS faz parte, para pôr fim a um processo do presidente.
O programa “The Late Show with Stephen Colbert” ganhou um Emmy no último domingo. Com o anúncio, restam dois grandes programas noturnos no ar, apresentados por Jimmy Fallon e Seth Meyers, algo que Trump não deixou de comentar em sua reação.”Isso deixa Jimmy e Seth, dois absolutos perdedores, na NBC Notícias Falsas. Seus índices de audiência também são horríveis. Faça isso, NBC!”
*Com informações da AFP